Entrámos num novo ano com a esperança de ver para trás o que, para a grande maioria, foi um dos anos mais imprevisíveis e com maior impacto em termos pessoais e profissionais de sempre. Chega assim o momento de começar a trabalhar em cenários contando com que aquilo que imaginamos vá voltar ao normal (assim que a pandemia estiver controlada graças à vacina), mas também de perceber o que mudou definitivamente na nossa forma de viver a experiência de trabalho (workplace experience).
Para as organizações este é um dos temas em cima da mesa. Muitos têm sido os estudos feitos para percebermos de que modo a forma como o espaço de trabalho está organizado influencia o bem-estar, o engagement e a produtividade das pessoas – na JLL, realizámos recentemente o estudo Workplace Human Experience, por exemplo – que conclui que o planeamento estratégico do espaço tem influência direta nestas variáveis e, consequentemente, nos resultados das organizações.
Ironicamente, durante o ano de 2020, pusemos em marcha uma enorme reestruturação da nossa sede em Lisboa. Partindo do conhecimento das características da nossa equipa, da especificidade da nossa área de negócio, da nossa estratégia e cultura, criámos um espaço que cumpre assim todos os requisitos para garantirmos que as pessoas estão confortáveis, têm espaços para estarem concentradas, para fazerem trabalho de colaboração, para se reunirem com clientes, para falarem ao telefone, para terem interações informais, para se inspirarem e serem criativas. Não sabíamos, à data da elaboração do projeto, que íamos passar por uma pandemia que ia acelerar o processo de trabalho remoto, as reuniões virtuais, etc.
Para muitas organizações esta é uma mudança muito rápida no seu modus operandis. Para as mais convencionais, preocupa-as o tema da produtividade, que, na verdade, é uma das variáveis que se procura melhorar com a organização dos espaços de trabalho, apesar de saberem que o momento mais crítico e com maior impacto na produtividade das pessoas foi (e está novamente a ser) o lockdown, principalmente para aqueles que têm filhos pequenos em casa ou para aqueles que não reúnem as condições para trabalhar a partir de casa. Ainda assim, de uma forma transversal, chega-nos o feedback de algum desgaste neste modelo e da necessidade de uma grande disciplina individual para se ser tão produtivo em casa como no escritório. Claro que esta não é a única componente que fica comprometida neste novo modelo: o cross-selling, as interações informais e o networking são mais difíceis de assegurar à distância.
A pergunta que impera fazer neste momento é se esta é uma tendência que se vai manter ou se está apenas relacionada com a tal sensação de segurança que, pelos resultados referidos anteriormente, 40% das pessoas ainda não têm.
Até lá, e uma vez que possamos deixar o regime de teletrabalho, às organizações competirá prever uma gestão do espaço por forma a que o regresso seja apelativo às pessoas, quer seja para a participação em projetos de colaboração, em eventos de networking e/ou que promovam o cross-selling, quer seja na disponibilização de espaço adequado à elaboração de trabalho mais criativo/inovação e/ou para interações mais informais.