O interesse por comprar terrenos urbanos e rústicos deu um salto em quase todos os distritos de Portugal Continental, segundo revela um estudo do idealista.
A pandemia da Covid-19 tem vindo a influenciar a postura de muitas famílias em termos de habitação e investimentos imobiliários. Com o confinamento, ter mais espaço interior para teletrabalhar e estudar, e zonas de exterior para relaxar, valorizou-se. Neste contexto, comprar um terreno urbano para construir casa – de forma tradicional ou optando por casas pré-fabricadas – ganhou expressividade. E adquirir um solo classificado como rústico, seja para exploração agrícola, florestal, energética, cultural, paisagística ou para transformá-lo em solo urbano, passou também a estar em cima da mesa.
Um estudo do idealista mostra que, durante a pandemia, a procura por terrenos disparou: tanto por espaços urbanos, isto é, suscetíveis de “urbanização ou de edificação” (segundo o artigo 74.º do Decreto-Lei n.º 80/2015); como por solos rústicos, onde é possível cultivar alimentos, cuidar de animais, plantar árvores ou transformá-lo em urbano para construir – embora esta última seja uma opção de “carácter excecional” e “limitada”, segundo o artigo 72.º do mesmo decreto.
Os dados referem-se aos 18 distritos de Portugal continental e mostram variações existentes entre a procura, os preços unitários e stock existente nestes tipos de solos entre março de 2020 e março de 2021.
“O aumento da procura por terrenos, tanto urbanos como rústicos, é evidente neste ano de pandemia, o que fez com os preços também subissem. Ao compararmos os dados de 2019, antes do aparecimento da Covid-19, e os dados de hoje, percebemos que há um interesse claro nos terrenos, seja para construção de habitações com mais espaço interior e exterior, assim como os terrenos rústicos, para cultivos, considerando que a atividade agrícola se provou resiliente em tempos de pandemia”, analisa Inês Campaniço, responsável do idealista/data em Portugal.
Com o interesse por terrenos a subir em flecha, há pelo menos dois cenários lógicos possíveis: ou o stock existente desce consideravelmente, o que poderá influenciar o aumento de preços unitários, ou o stock acompanha a procura, dando lugar à estabilização do valor dos espaços ou a uma variação moderada. Em tempos de pandemia, durante o qual há houve vários meses de confinamento, também há que colocar na equação uma lógica inversa em que há mais terrenos colocados à venda por questões de subsistência e os que já estavam no mercado descem os preços para atrair compradores – um terceiro cenário que pode influenciar o aumento da procura.
Durante a pandemia, a procura por terrenos urbanos (onde é possível construir casa), aumentou na maioria dos distritos portugueses – em 16 dos 18 – e houve 11, em concreto, onde mais do que duplicou. Bragança é um caso sério, já que regista um aumento na procura na ordem dos 600%. A par da procura, o preço unitário também subiu neste período, mas menos – 22% -, alcançando em março deste ano os 89,4 euros por metro quadrado (euros/m2).
O distrito de Braga foi o segundo que deu o maior dos saltos na procura por terrenos urbanos, disparando 219% durante a pandemia. Segue-se Setúbal a registar um aumento de 168%, Leiria (+150%), Santarém (+142%), Beja (+135%), Faro (+135%), Porto (+132%), Lisboa (+129%), Portalegre (+113%) e Aveiro (+110%). Por outro lado, as famílias reduziram a procura de terrenos urbanos ao longo do último ano na Guarda (-52%) e em Castelo Branco (-3%), distritos onde o stock pouco aumentou (6-7%) e os preços unitários pouco ou nada diminuíram.
No caso dos terrenos urbanos, verifica-se que o stock foi acompanhando o aumento da procura, já que apresentou um comportamento geral estável durante a pandemia – a grande excepção ocorreu em Vila Real (+54%). E registam-se ainda quatro distritos onde o salto da procura poderá ter levado a ligeiras descidas no volume de solo urbano disponível neste período: Leiria (-8%), Beja (-6%), Santarém (-4%) e Setúbal (-1%).
Os preços unitários dos terrenos aumentaram em exatamente metade dos distritos analisados, com destaque para Évora (+39%), Vila Real (+39%), Bragança (+22%) e Coimbra (+21%), onde se registaram as maiores evoluções entre março de 2020 e março de 2021. Este pode ser o reflexo do aumento da procura nestes distritos, já que a variação de solos urbanos disponíveis é, no geral, moderada. Em oito distritos de Portugal continental, o valor destes terrenos desceu sendo a queda mais acentuada registada em Portalegre (-24%), seguida de Beja (-12%) e Viseu (-9%). Nestes três, a descida de preços pode ter levado a um aumento da procura no último ano.
A procura por terrenos rústicos subiu em todos os distritos de Portugal continental, sem exceção. E em exatamente metade dos distritos verificou-se que a procura mais do que duplicou durante a pandemia, apresentando variações acima dos 100%. São eles Faro (+250%), Setúbal (+186%), Vila Real (+171%), Castelo Branco (+165%), Bragança (+161%), Aveiro (+152%), Beja (+131%), Viana do Castelo (+124%) e Coimbra (+106%). A menos expressiva foi registada em Portalegre, onde só evoluiu 19%.
Já variação de stock de solos rústicos é mais heterogénea do que nos terrenos urbanos – variando entre +93% (em Braga, onde a procura subiu 93%) e -20% (em Évora, distrito que registou um aumento da procura de 165%).
A par da procura, os preços unitários dos terrenos rústicos também subiram na maioria dos distritos em análise – em concreto em 13 distritos dos 18. A subida mais expressiva foi mesmo em Portalegre (de 51%), onde o valor dos terrenos rústicos cresceu de 2,5 euros/m2 para 3,7 euros/m2. Lisboa registou a segunda maior subida neste período – de 49% – com os preços a atingir os 10 euros/m2 em março deste ano. Vila Real ocupa o terceiro lugar com uma variação de 37%, fixando o preço dos solos rústicos em 6 euros/m2. Neste panorama, houve apenas quatro distritos onde os valores dos terrenos deste tipo colocados no mercado em março de 2021 é menor do que no período homólogo: Guarda (-12%), Braga (-11%), no Porto (-10%) e Aveiro (-6%).
O que os dados do idealista/data também mostram é que, pelo contrário, os preços unitários destes terrenos em março de 2021 são, na sua maioria, inferiores aos registados antes da pandemia (isto é, em março de 2019). Esta é uma tendência que se verifica em 11 distritos, sendo que as maiores variações foram registadas em Bragança (-67%), Braga (-64%) e Viana do Castelo (-61%). Há ainda um distrito sem registar diferenças – Beja. Nos restantes seis, os valores dos solos rústicos em 2021 são ligeiramente superiores aos registados em 2019 – assumindo variações entre os 5% e os 15%. Para os especialistas do idealista/data, a Guarda é um caso particular. Isto porque, foi o único distrito a apresentar em março de 2021 um preço unitário mais baixo do que no mesmo período do ano passado, (-12%), mas superior a março de 2019 (5%).